domingo, 21 de fevereiro de 2010

Arte em Cabaça

Leia esta entrevista concedida com exclusividade para o Bau da Vovo, cedida por Sandra Maria de Carvalho Godinho, pirenopolina, artesã renomada que transforma simples cabaças em obras de arte. Quem vê suas peças não deixa de suspirar, são detalhes, cores, que tira qualquer um do serio. Essa incansável artesã, se destaca tanto pela simplicidade quanto pela elegância.


Aposentada pelo Tribunal de Justiça de Goiás, atualmente se encontra como uma das maiores conhecedoras dessa importante expressão. Sandra conta com o apoio dos três filhos e o marido, onde procura fazer escolhas de acordo com a sua refinada sensibilidade. O que dizer dessa mulher, super talentosa com uma mão fantástica para o trabalho.

Convido vocês a se encantarem com o trabalho de Sandra Carvalho.

Bau da Vovo: Como tudo começou? Como surgiu a Sandra Carvalho artista?

Sandra Carvalho: Eu costumo dizer que arte nasce na pessoa, a gente desenvolve ela com o tempo. Desde de o tempo em que eu estudava no colégio das irmãs carmelitas que percebia que tinha facilidades pra desenhar, criar, toda vida eu notava que tinha certo potencial pra arte. A arte é soberana, tem pessoas que tem dons, mas que fica adormecida. Eu acredito que com o contato humano, e a necessidade de se reiventar, nos inspira a buscar potencialidades que já está em nós. Entao comecei com vários tipos de trabalhos, como bijouterias, macramê, tela... Foi então que pensei, vou experimentar fazer cabaça, penso que quando acreditamos na essência , isso nos torna capaz. A partir daí tive algumas orientações, e então deslanchei. Eu amo criar minhas peças, idealizar, eu sou minha própria censura.

BV: Quais materiais e equipamentos você costuma utilizar?

SC: Utilizo cabaças tratadas e abertas, a base faço de madeira, utilizo adereços como fita, chapéu de palha, o durepox uso para os cabelos, cetim para as flores, as predarias, os brincos, tinta acrilex, não gosto de tinta brilhante, sempre tinta fosca e finalizo com o verniz. Cada peça tem uma novidade que posso agregar como os vestimentas das pessoas.

BV: Onde você busca inspiração?

SC: Quando você está artesã a gente passa a ser mais observadora, incorpora idéias ao trabalho sem ser cópias, com identidade. Por exemplo, eu só me limitava a linhas de bonecas, quando surgiu o artesanato goiazes, fui desafiada para fazer o mascarado, sai da minha linha de boneca, mas fazendo os mascarados percebi que evidenciaria a cultura de Pirenópolis e assim eu traria o resgate da nossa cultura. Posteriormente fora do projeto, pensei se criei os mascarados porque não as pastorinhas, que é um auto natalino da festa do Divino, onde conta o nascimento de cristo. Como eu já havia participado como pastorinha, me empolguei e então criei elas.

BV: Você tem um atelier ou compartilha espaços da casa para suas criações?

SC: Compartilho o espaço da casa, a família, filhos e maridos, colaboram na preparação das peças, no caso dos cabelos das negas malucas, meus filhos os fazem com mais facilidade, o inicio das pinturas conta com a colaboração do meu marido, e assim com a participação de todos consigo atingir melhor a qualidade das minhas peças.

BV: Quais características que você consideram essenciais para considerar o resultado final como um bom trabalho?

SC: Acabamento é primordial no trabalho, eu vendo qualidade e não quantidade. Eu poderia fazer o dobro de peça, daí eu tiraria a qualidade. O gratificante são as amizades que faço, as pessoas que passam pela sua vida, o reconhecimento pessoal pela sua criação, pois faço com tanto amor, satisfação. O olhos das minhas bonecas são grandes, vivos, firmes, talvez elas retratam eu mesma, perseverança, olhar firme, cada um diferente, mas todas com expressão do olho vivo. A fisionomia tem que casar, e daí refaço varias vezes até chegar no ponto.

BV: Como suas peças chegaram às pessoas?

SC: Eu vendi peças para as pousadas decorarem seus ambientes, fiz exposições no hotel pireneus, fui deixando meus cartões, as pessoas me encontraram pelo cartão. Tenho também um blog www.sandracarvalho.blogspot.com , mas o que mesmo faz a diferença é o boca a boca. Participei numa exposição no Piar 21 em Brasilia, em Goiânia na Casa Cor no Liceu, devargazinho vou divulgando e atingindo o publico em geral.

BV: Porque você acredita ter o Baú da Vovo como parceira?

SC: Primeiramente identifiquei com o ser humano, eu acredito na empatia, em tudo que vai à vida. Fui à loja, achei muito bonita, e notei que o baú quer valorizar o artesão local. O Baú da Vovo é mais voltado para a valorização do artista local. Tem a tendência a preservar a cultura, por isso eu acredito nessa parceria.